
Dólar cai ante o real apesar de tarifas de Trump sobre aço brasileiro; bolsa avança e inflação dá alívio
O dólar encerrou em queda nesta terça-feira (11), mesmo após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio, medidas que afetam diretamente o Brasil, um dos principais exportadores desses produtos para o mercado norte-americano. A moeda norte-americana fechou o dia cotada a R$ 5,7682, com queda de 0,31%. Desde o início do ano, o dólar acumula uma desvalorização de 6,65% frente ao real. Enquanto isso, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, registrou alta de 0,76%, atingindo 126.521,66 pontos, em um dia marcado por expectativas sobre o impacto das tarifas e a divulgação de dados positivos sobre a inflação no Brasil.
Decisão de Trump pressiona mercado, mas dólar recua
A decisão de Trump, anunciada na noite de segunda-feira (10), estabelece que as tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio entrarão em vigor a partir de 4 de março, eliminando isenções e acordos de cotas para os dois metais. A medida visa proteger a indústria norte-americana, mas afeta diretamente países exportadores desses produtos, como o Brasil, que é um dos principais fornecedores de aço para os EUA.
Inicialmente, a notícia pressionou o dólar, que chegou a atingir R$ 5,8083 no início do dia, refletindo a preocupação do mercado com os possíveis impactos negativos sobre as exportações brasileiras. No entanto, ao longo da sessão, a moeda norte-americana perdeu força e migrou para o território negativo, acompanhando o movimento de queda do dólar frente a outras moedas no exterior.
Analistas avaliam que o intervalo de quase um mês até a implementação das tarifas abre espaço para negociações entre o Brasil e os EUA, o que pode ter amenizado a reação imediata do mercado. Além disso, há expectativas de que o Brasil possa se beneficiar indiretamente de uma possível guerra comercial entre EUA e China, com a possibilidade de desvio de compras chinesas para o mercado brasileiro.
“Toda vez que Trump taxa a China, o dólar ganha valor frente ao resto do mundo, mas a China impõe outras sanções. E quando faz isso, os compradores chineses olham para outros países, como o nosso”, explicou Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos. “A pauta de exportação para a China acaba sendo desviada para cá.”

Inflação em janeiro dá alívio ao mercado
Outro fator que contribuiu para a queda do dólar foi a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro, que registrou alta de apenas 0,16%, a menor taxa para o mês desde o início do Plano Real, em 1994. O resultado, abaixo dos 0,52% registrados em dezembro, refletiu principalmente a queda nos custos de energia e foi visto com otimismo pelo mercado.
“O IPCA de janeiro vem em 0,16% e dá um alívio. Ele permite o afrouxamento da política de juros e é um bom sinal para a economia real”, avaliou Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.
Apesar do resultado positivo, economistas alertam que a inflação pode acelerar nos próximos meses, especialmente diante de pressões externas, como a alta dos preços das commodities e os efeitos das tarifas de Trump sobre o comércio global. “A inflação de janeiro foi positiva, mas não podemos descartar que haja pressões futuras, principalmente se o dólar voltar a subir ou se houver novos choques nos preços internacionais”, ponderou Fabio Louzada, economista e CEO da Euqueroinvestir.
Bolsa em alta, com destaque para siderúrgicas
Enquanto o dólar recuava, o Ibovespa fechou em alta de 0,76%, atingindo 126.521,66 pontos. O volume financeiro do pregão somou R$ 15,58 bilhões. As ações da siderúrgica Gerdau (GGBR4), uma das empresas mais afetadas pelas tarifas de Trump, lideraram os ganhos, refletindo a confiança dos investidores em relação ao cenário interno.
“O mercado reagiu de forma positiva aos dados de inflação e à possibilidade de negociações com os EUA. Além disso, há uma percepção de que o Brasil pode se beneficiar de uma guerra comercial mais ampla, com a China buscando novos fornecedores de commodities”, explicou Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Outras empresas do setor de materiais básicos também tiveram desempenho positivo, impulsionadas pela alta dos preços das commodities no mercado internacional. No entanto, analistas alertam que o impacto das tarifas de Trump sobre o setor siderúrgico brasileiro ainda é incerto e pode gerar desafios a médio prazo.

Impacto das tarifas a longo prazo
Apesar da reação positiva do mercado nesta terça, as tarifas impostas por Trump têm potencial para afetar a economia brasileira a médio e longo prazo, especialmente no setor siderúrgico, que depende significativamente das exportações para os EUA. A medida pode gerar desemprego e pressionar a cotação do dólar, dependendo da evolução das negociações comerciais entre os dois países.
“O Brasil é um dos principais exportadores de aço para os EUA, e as tarifas de 25% podem reduzir significativamente a competitividade dos produtos brasileiros no mercado norte-americano”, explicou Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio. “Isso pode levar a uma reestruturação do setor e a uma busca por novos mercados, o que não será fácil no curto prazo.”
Além disso, as tarifas podem ter um efeito cascata sobre outros setores da economia, como o automotivo e a construção civil, que dependem do aço como insumo básico. “Se o custo do aço aumentar no mercado interno, isso pode pressionar os preços de diversos produtos e serviços, gerando impactos inflacionários”, acrescentou Monteiro.
Cenário internacional e perspectivas
Enquanto isso, os investidores seguem atentos aos desdobramentos da política comercial dos EUA e aos possíveis impactos sobre a inflação global e as taxas de juros norte-americanas, que podem influenciar o fluxo de capitais para mercados emergentes como o Brasil.
O anúncio das tarifas sobre metais tem o potencial de afetar as exportações de uma série de parceiros comerciais dos EUA, incluindo Brasil, México, Canadá, Japão e União Europeia, que são produtores dos materiais visados por Trump. Em relação às tarifas recíprocas, no entanto, o impacto é incerto, uma vez que Trump não forneceu detalhes sobre quais países buscará atingir com as medidas.
“A pressão diante da ameaça de Trump de anunciar hoje a taxação sobre as importações de aço e alumínio deixa a nossa moeda mais fragilizada”, disse Guilherme Esquelbek, gerente da mesa de câmbio da corretora Correparti. “No entanto, o mercado parece estar precificando a possibilidade de negociações e acordos que possam mitigar os efeitos negativos.”
No cenário doméstico, os investidores também estão de olho na política monetária do Banco Central, que pode ser influenciada pela trajetória da inflação e pelo comportamento do dólar. “Se a inflação continuar sob controle e o dólar se manter estável, há espaço para o BC manter os juros em patamares baixos, o que é positivo para a economia”, avaliou Louzada.
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