A decisão de Donald Trump
O anúncio do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio reacendeu uma disputa comercial global, com impactos diretos em países como Canadá, Brasil, México e Coreia do Sul. No entanto, o verdadeiro alvo das medidas é a China, que, apesar de não exportar grandes volumes diretamente para os EUA, domina a produção global desses metais e influencia os mercados internacionais.
O Que Está em Jogo?
As novas tarifas propostas por Trump têm como objetivo proteger a indústria americana de aço e alumínio, setores considerados estratégicos para a defesa nacional e a economia dos EUA. No entanto, a medida afeta principalmente os aliados comerciais dos Estados Unidos, que são os maiores fornecedores desses produtos.
- Canadá: Maior exportador de aço e alumínio para os EUA, com 6 milhões de toneladas enviadas em 2024.
- Brasil: Segundo maior fornecedor de aço, com 4,1 milhões de toneladas exportadas em 2024.
- México: Terceiro maior fornecedor, com 3,2 milhões de toneladas enviadas no ano passado.
Apesar de a China não figurar entre os principais exportadores diretos de aço e alumínio para os EUA, sua superprodução desses metais tem inundado os mercados globais, pressionando os preços e afetando indústrias em todo o mundo.

O Papel da China na Indústria Global de Aço e Alumínio
A China é responsável por mais da metade da produção global de aço e alumínio, com uma capacidade produtiva que supera a de todos os outros países combinados. Nos últimos anos, a desaceleração da economia chinesa reduziu a demanda interna, levando a um aumento nas exportações para mercados como Canadá, México e Vietnã. Esses países, por sua vez, processam e reexportam parte desses metais para os EUA e outras nações.
Esse fluxo indireto de aço e alumínio chinês tem gerado descontentamento entre produtores e sindicatos americanos. Michael Wessel, consultor do United Steelworkers of America, destacou que a superprodução chinesa está “inundando os mercados globais e prejudicando gravemente os produtores e trabalhadores americanos”.
Impactos no Brasil
O Brasil é um dos países mais afetados pelas tarifas propostas por Trump. Como nono maior produtor mundial de aço bruto, o país exporta 12 vezes mais para os EUA do que para a Europa e 6 vezes mais do que para a América Latina. Em 2024, o Brasil enviou 4,1 milhões de toneladas de aço para os Estados Unidos, consolidando-se como o segundo maior fornecedor.
No caso do alumínio, o Brasil ocupa a 14ª posição entre os fornecedores dos EUA. Apesar de não ser um dos principais exportadores, o setor também pode ser impactado pelas novas tarifas.
O governo brasileiro, representado pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, adotou uma postura cautelosa, aguardando a decisão oficial dos EUA antes de tomar qualquer medida. Haddad destacou a importância de evitar interpretações errôneas e agir com base em informações concretas.

Reações Internacionais
A União Europeia criticou veementemente as tarifas propostas por Trump, classificando-as como “ilegais e economicamente contraproducentes”. A Comissão Europeia afirmou que não vê justificativa para as medidas e prometeu proteger os interesses de empresas, trabalhadores e consumidores europeus.
A China, por sua vez, evitou comentar diretamente as tarifas, mas destacou que o protecionismo não leva a lugar nenhum. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Guo Jiakun, afirmou que “guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores” e pediu mais diálogo entre as nações.
Histórico de Tarifas e Recuos
Esta não é a primeira vez que Trump ameaça impor tarifas sobre o aço e o alumínio. Em 2018, ele anunciou tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio, mas acabou isentando países como Brasil, Argentina, Coreia do Sul e União Europeia após negociações.
Em 2019, Trump voltou a ameaçar aumentar as tarifas sobre o aço e o alumínio brasileiro, alegando desvalorização do real em relação ao dólar. No entanto, após uma conversa com o então presidente Jair Bolsonaro, ele desistiu da medida.
Por Que Aço e Alumínio?
As tarifas sobre aço e alumínio têm um forte apelo político e estratégico. Durante seu primeiro mandato, Trump destacou a importância desses metais para a defesa nacional e a indústria militar dos EUA. Além disso, o setor siderúrgico é influente em estados-chave como a Pensilvânia, onde está localizada a sede do United Steelworkers of America e da U.S. Steel, uma das maiores siderúrgicas do país.